Usar máscara impede a transmissão da varíola dos macacos? Entenda



O surto da varíola dos macacos pelo mundo está colocando especialistas em alerta. Até o momento, o vírus foi identificado em mais de 15 mil pacientes espalhados por 74 países. No sábado 23, a Organização Mundial da Saúde (OMS) considerou a varíola dos macacos uma emergência de saúde pública.

Com mais de 800 infectados, o Brasil é hoje o sétimo país no mundo com maior número de casos confirmados, segundo dados do Ministério da Saúde. Por sua vez, o Estado de São Paulo é o que mais registra casos de Orthopoxvirus variolae (monkeypox), o agente causador da varíola dos macacos.

Como uma tentativa de retardar a entrada do vírus no Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomendou em maio o uso de máscaras em aeroportos e em aeronaves. De acordo com o médico neurocirurgião Paulo Porto de Melo, a medida de proteção não ajudou a frear a transmissão da doença no país.

“A varíola dos macacos é transmitida por intermédio de contato prolongado e direto entre pessoas e as lesões ativas do vírus, e não por via respiratória”, afirma o membro do Médicos Pela Vida, grupo que se dedica a estudar a covid-19 desde o início da pandemia. “Assim, o efeito das máscaras para reduzir a transmissão desta doença é desprezível.”

A taxa de mortalidade causada pelo vírus monkeypox é estimada entre 2% a 10%, a depender do tipo de agente. Além disso, a transmissão por contato sexual foi observada em 95% dos casos, segundo um estudo publicado pela revista científica britânica The New England Journal of Medicine, na semana passada.

Segundo a OMS, o surto de varíola dos macacos na Europa pode ter sido causado por hábitos sexuais de risco em festas de música eletrônica, conhecidas como raves, na Espanha e na Bélgica. Os primeiros casos foram registrados em homens que se relacionaram sexualmente com outros homens.

Para o médico Paulo Porto de Melo, em vez da recomendação do uso de máscaras, existem estratégias mais eficientes para conter o avanço da doença, como estimular a educação dos principais grupos de risco para o contágio (homens que estejam fazendo sexo com outros homens), evitar contatos íntimos com indivíduos contaminados e seguir o isolamento por 21 dias.

Transmissão via respiratória

Há, também, uma discussão acerca da possibilidade de transmissão da doença via gotículas ou aerossóis, o que justificaria a recomendação para uso de máscaras como medida preventiva.

A transmissão da infecção por meio da exposição a gotículas respiratórias expelidas, contendo vírus, ocorre quando uma pessoa infectada tosse ou espirra, principalmente quando ela se encontra a menos de 1 metro de distância da outra.

Já a transmissão por aerossol ocorre por meio de gotículas respiratórias menores (aerossóis) contendo vírus e que podem permanecer suspensas no ar, e serem levadas por distâncias maiores que 1 metro por períodos mais longos (geralmente horas).

Para a infectologista Patricia Rady Muller, a contaminação por monkeypox via respiratória não é descartada como uma possível forma de transmissão. De acordo com a médica, apesar de a principal forma de transmissão ser “corpo a corpo”, a contaminação via gotículas pela saliva configuraria um segundo grau de contágio.

“Focar no uso de máscaras não seria uma estratégia para retardar a chegada do vírus na sua totalidade”, argumenta a médica. “Mas, na verdade, seria importante para evitar o contágio caso o infectado esteja próximo de muitas pessoas.” Patricia reforça que a recomendação mais efetiva para evitar a transmissão da doença é o isolamento do paciente contaminado. “A principal forma de frear essa cadeia de transmissão é detectar o maior número de pessoas infectadas e isolar esses pacientes”, diz Patricia.

Para Roberto Zeballos, clínico geral com doutorado em Imunologia, a varíola dos macacos não é uma doença de via respiratória. “Cadê os casos que foram transmitidos por gotículas? Se a contaminação fosse por aerossóis não teria essa predominância de 95% [referindo-se ao estudo da revista britânica] nos casos onde ocorrem relações sexuais íntimas”, afirma.

O que pode acontecer, segundo o especialista, é a contaminação pelo ar quando o médico, por exemplo, realiza o tratamento de uma pessoa contaminada pela monkeypox. “A doença pode ser transmitida, sim, quando o médico está lidando com o paciente contaminado, pelas gotículas das vesículas” [lesões na pele da pessoa infectada], explica Zeballos.

Créditos: Revista Oeste

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