O número de pessoas que morreram em meio às fortes chuvas que atingem Pernambuco subiu para 84. A informação foi dada pelo governador, Paulo Câmara (PSB), em entrevista coletiva concedida no início da noite deste domingo (29).
De acordo com ele, foram 79 vítimas fatais registradas das 18h de sexta-feira (27) até este domingo. Somadas às cinco mortes registradas também por causa das chuvas, desde quarta-feira (25), o número chega 84.
Catorze municípios a decretaram situação de emergência: Recife, Olinda, Jaboatão dos Guararapes, São José da Coroa Grande, Moreno, Nazaré, Macaparana, Cabo de Santo Agostinho, São Vicente Ferrer, Paudalho, Paulista, Goiana, Timbauba e Camaragibe.
O governador anunciou a liberação de R$ 100 milhões para os municípios afetados pela chuva. O recurso deve ser utilizado para trabalho de busca e salvamento, obras urgentes e de infraestrutura e estará disponível esta semana.
“Sabemos que essas primeiras horas são muito difíceis, os primeiros socorros. [Agora] É atuar efetivamente nas ações. Conversei com todos os prefeitos justamente para elaborarem um plano de trabalho para saber quais as ações que vão precisar do apoio do estado nesse momento,”, afirmou.
O decreto de emergência é o primeiro passo também para que municípios possam ter acesso a recursos do governo federal. Mais cedo, o ministro do Desenvolvimento Regional, Daniel Ferreira, já havia adiantado que equipes federais ficariam no estado para auxiliar nesse trâmite e agilizar o reconhecimento por parte da pasta da situação de emergência ou calamidade pública.
O governador disse ainda que as buscas estão concentradas em 12 pontos, entre a Região Metropolitana do Recife e a Zona da Mata do estado.
“Estamos concentrados agora em 12 pontos mais críticos, pontos que ainda têm notícia de desaparecimento de pessoas e estamos com muita gente trabalhando justamente para efetivar essa localização. Estamos em estado de alerta”, afirmou.
Até o começo da tarde, segundo o governo estadual, 56 pessoas seguiam desaparecidas. Além disso, 3.957 estavam desabrigados, principalmente nos municípios da Região Metropolitana e na Mata Norte.
O secretário executivo de Defesa Civil de Pernambuco, Leonardo Rodrigues, afirmou que embora as chuvas tenham arrefecido, ainda há risco de deslizamentos e outras incidências. “A área de risco, hoje, está concentrada na região de Jardim Monte Verde, no limite entre o Recife e Jaboatão”, disse.
O secretário também afirmou que o cenário é “histórico” devido ao porte dos estragos causados ao Grande Recife. “Toda a região litorânea do estado está com um grau elevado de risco geológico, inclusive recebemos o alerta e estamos alertando todo sistema municipal. Diante do acumulado de chuvas, principalmente nas áreas de morro, há um risco muito alto para deslizamento”, afirmou.
As chuvas castigam o estado desde a segunda-feira (23) e a primeira morte foi registrada na quarta-feira (25). As buscas foram retomadas neste domingo pelo Corpo de Bombeiros, Exército e moradores da região.
Luto e dor
Dezenas de pessoas morreram em Jardim Monte Verde, no limite entre o Recife e Jaboatão. Entre os sobreviventes dessa tragédia está o auxiliar de pedreiro Thiago Estêvão, que perdeu perdeu a mãe, os avós e primos. “Eu só pensava em Deus, eu estava até a testa sufocado pela lama”, disse o auxiliar de pedreiro.
Ainda neste domingo (29), Corpo de Bombeiros, Exército e moradores da região buscavam por seis pessoas que ainda estariam soterradas. A aposentada Lucineia Maria Souza de Brito acompanhava os trabalhos rezando para encontrar o corpo da irmã.
“Eu estou sob efeito de remédios, porque estou muito nervosa desde que soube do que aconteceu. Perdi quatro pessoas na minha família, não sei o que fazer. Meu sobrinho era tão jovem”, disse a aposentada.
Na mesma área, o Luiz Estevão Aguiar perdeu 11 parentes no deslizamento de terra. “Faleceu minha irmã, meu cunhado, faleceram 11 pessoas da minha família, foi difícil. Difícil mesmo. Não esperava isso”, disse, em entrevista (veja vídeo acima).
O aposentado Genilson Sebastião, cujo filho, nora, ex-esposa e atual marido dela desapareceram em meio a escombros, acompanhava os trabalhos em Jardim Monte Verde neste domingo (29). “A gente fica pedindo força a Deus, porque só Deus é quem segura neste momento”, declarou Genilson.
Além da dor pela perda dos familiares, parentes das vítimas vivem mais uma angústia na hora de liberar os corpos junto ao Instituto de Medicina Legal (IML). “Cheguei de manhã, são quase 18h e não liberaram os corpos”, lamenta o pedreiro Thiago da Silva, que perdeu dois filhos, a mãe e a esposa.
Barragens vertendo
Neste domingo (29), 15 barragens do Grande Recife, Agreste e Zona da Mata estavam vertendo.
No Grande Recife, atingiram a capacidade máxima de acumulação e estão vertendo: Várzea do Una (em São Lourenço da Mata), Duas Unas (Jaboatão dos Guararapes), Pirapama (Cabo de Santo Agostinho), Sicupema (Cabo de Santo Agostinho), Utinga (Ipojuca) e Bita (Ipojuca).
No interior, foram nove os mananciais que atingiram a capacidade máxima de acumulação e também estão vertendo: Inhúmas e Mundaú (em Garanhuns), Santana II (em Brejo da Madre de Deus), Pedra Fina (em Bom Jardim), Pau Ferro (em Quipapá), Siriji, (em Vicência), Orá/Cursaí (em Paudalho), Tiúma, (em Timbaúba) e Tabocas/Piaça (em Belo Jardim).
Reforço de outros estados
Para reforçar as ações e socorro à população, os 92 novos soldados do Corpo de Bombeiros que foram nomeados no sábado (28) já começaram a trabalhar neste domingo (29).
O estado também recebeu bombeiros da Paraíba e profissionais de Minas Gerais, todos especializados no atendimento a casos de deslizamentos, segundo o governo estadual. A prefeitura do Recife recebeu apoio da Defesa Civil do Rio de Janeiro.
Além das forças de segurança estaduais, o Exército e a Marinha auxiliam nos resgates com cem e vinte profissionais, respectivamente, e seis embarcações. As escalas foram reforçadas também no Instituto de Medicina Legal (IML), informou o estado.
Segundo o governador Paulo Câmara (PSB), uma das prioridades definidas em reunião na manhã deste domingo (29) foi a desobstrução dos acessos às cidades e restabelecimento do abastecimento de água, além de uma análise do trabalho que está sendo feito nesses locais.
*** Informações com G1
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