Chamada de “Mentalidades Matemáticas”, a abordagem foi elaborada pelo Instituto Sidarta, de São Paulo, e utiliza neurociência, psicologia e educação para desenvolver os potenciais de aprendizado dos alunos.
A cidade de Cruz será a primeira do Ceará e segunda do Nordeste a receber as capacitações e aplicar a nova forma de ensino, cuja ideia é “tornar a matemática mais atrativa”, como pontua Raí Mota, secretário municipal de Educação. O primeiro encontro presencial ocorreu nessa terça-feira (30), e o próximo será em agosto.
“Fizemos um diagnóstico e percebemos que havia necessidade de os estudantes aprenderem matemática melhor. A nossa ideia é que o instituto possa nutrir os professores com saberes e ferramentas para que os alunos gostem de aprender”, cita.
O gestor descreve que, na última avaliação diagnóstica, os estudantes da rede municipal de Cruz obtiveram média 7 em língua portuguesa – e 4,5 em matemática. “É uma discrepância muito grande. Com a metodologia, queremos que os meninos consigam alcançar proficiência de 7,5 a 8 pontos em matemática”, projeta Raí.
A iniciativa deve abranger a formação de 60 professores e técnicos que compõem a rede municipal de Cruz, impactando mais de 4 mil estudantes matriculados na educação básica da cidade, conforme o Instituto Sidarta. Além das formações presenciais, haverá ainda encontros online mensais até novembro.
R$ 60 MIL, foi o valor investido pelo município de Cruz para trazer as capacitações do Instituto Sidarta à cidade.
“Depois da formação, vamos acompanhar os professores na implementação da abordagem, com visitas às salas de aula e encontros para avaliar os resultados, complementa Raí.
O secretário acrescenta que uma das principais diferenças entre o “Mentalidades Matemáticas” e o ensino tradicional “é a possibilidade de o professor trazer uma matemática mais prática, utilizando elementos visuais e concretos dentro das salas de aula”.
O QUE MUDA
Se de um lado o ensino tradicional aposta nas teorias e fórmulas, do outro o “Mentalidades Matemáticas” busca estimular o potencial de aprendizagem dos estudantes mostrando que a disciplina está “nas coisas práticas do dia a dia”, como explica Ya Jen Chang, mestre em educação pela Universidade de Harvard e presidenta do Instituto Sidarta.
“Hoje, nas salas de aula, existe uma percepção de que tem gente que nasceu com o dom da matemática e os que nasceram sem o dom. Isso é um mito. Não existem pessoas de humanas ou de exatas: todos nós somos os dois”, introduz Ya Jen.
A educadora cita que “bebês com 8 meses de vida já têm noção de probabilidade e estatística”, e questiona: “quantos de nós nos sentimos aptos a falar sobre esses conceitos?”
“O fato é que o conceito de probabilidade, por exemplo, está em coisas simples que fazemos no dia a dia sem perceber. No supermercado, que fila você pega? Em qual vai passar menos tempo? Isso já é pensamento de probabilidade. São padrões do dia a dia que fazem parte da linguagem matemática”, ilustra.
Um dos focos da abordagem de ensino é explorar elementos visuais para “traduzir” a matemática aos alunos, torná-la “palpável”, fazendo com que entendam os conceitos, e não apenas “decorem”.
“Quando a gente traz o processo de fórmula antes de entender o conceito, a gente passa só por um processo de memorização. E isso é raso: soprou, desaparece. Mas quando você entende o conceito, você reconstrói a fórmula a qualquer momento”, frisa Ya Jen.
CAPACITAÇÃO DE PROFESSORES
Além de esbarrar em sistemas de avaliações tradicionais, outro desafio de aplicar uma nova abordagem de ensino é justamente capacitar os profissionais que vão transmitir isso aos estudantes, como avalia a presidenta do Instituto Sidarta.
“Muitos de nós aprendemos uma matemática fechada. Então, não adianta eu falar de um campo teórico pro professor: ele precisa vivenciar na pele essa matemática diferente, senão as chances de ele absorver são menores”, pontua.
Ya Jen explica que o campo teórico – incluindo neurociência, psicologia e educação – é repassado aos docentes, mas sempre incluindo atividades práticas que os façam refletir sobre a própria atividade laboral.
“Não é uma formação pra passar receitas: a gente estimula o processo de reflexão individual de cada professor, pra reconstruir a relação deles com a matemática”, define.
Questionada sobre que tipo de material didático é utilizado para tornar esse ensino mais palpável na prática, Ya Jen destacou que o site do Mentalidades Matemáticas oferta atividades lúdicas da disciplina que os professores podem aplicar aos alunos, além de materiais de formação e cursos online para os docentes se aprimorarem.
“A experiência do Ceará vai ser uma aprendizagem em conjunto. O Mentalidades Matemáticas é uma abordagem: não queremos doutrinar ninguém, mas aprender juntos. Cruz já é um exemplo de município com excelente Ideb, vamos aprender com eles”, finaliza Ya Jen.
Fonte: Diário do Nordeste
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