Em nota, a Polícia Civil informou que investiga o caso como lesão corporal dolosa e que um boletim de ocorrência denunciando o crime foi registrado no 5º Distrito Policial (15º DP), delegacia que apura as circunstâncias do caso. O g1 não conseguiu contato com os agressores.
Wryel é artista plástico e estava trabalhando no momento do jogo do Brasil, que enfrentava a Sérvia pela fase de grupos da competição mundial. A mulher dele, por sua vez, assistia ao jogo com um grupo de pessoas e convidou o marido para ir ao encontro deles depois que ele encerrasse o trabalho.
Ao g1, Wryel relatou que foi ao local onde a mulher e o grupo estava e que, já de imediato, foi recebido com hostilidade por outras pessoas que assistiam ao jogo pela forma como ele estava vestido. Como voltava do trabalho, ele estava com as roupas sujas de tinta, vestindo bermuda e tênis.
“Assim que eu saí do trabalho eu fui convidado pela minha esposa e por um casal de amigos da gente. Não me senti ameaçado por ser um ambiente familiar e fui, até então entre pessoas de bem. Ao chegar lá já senti hostilidade, já senti uma sensação de as pessoas se sentirem ameaçadas. E [começaram] olhares, piadas arrastando, querendo falar com gírias, querendo insinuar alguma coisa e que na verdade é só visual, né. Por ser artista plástico, por ser autônomo, eu tenho essa liberdade de andar de uma maneira que eu acho que eu possa me sentir mais à vontade”, contou.
Segundo Wryel, as piadas eram proferidas por dois homens brancos, mas outras pessoas da mesma família também o hostilizavam.
“[As piadas] tinham relação com o fato de eu ser periférico, longe desse aspecto de vítima da sociedade, mas esse aspecto de vítima da sociedade é alimentado por esse tipo de pejoratividade, também de as pessoas sempre verem o periférico como alguém que vai falar com gírias, como alguém que não tem conhecimento, como alguém que não é formado. Eu senti sim, de fato [o racismo]”, contou.
A confusão
A confusão começou, conforme relato de Wryel, quando ele comentou com uma pessoa que o hostilizava que ele estava se sentindo mal com a situação.
“Eu tinha acabado de chegar lá, não tinha ingerido nenhum tipo de bebida alcóolica, eu estava trabalhando em altura, e a gente foi lá. A minha esposa gosta da minha caipirinha, pediu pra eu fazer uma para ela com a bebida que ela tinha comprado e eu senti que na hora que eu fui fazer, me olharam da cabeça aos pés, tomaram o copo de drink da minha mão, não me deixaram fazer. Tiraram a bebida que ela comprou, como coisa do tipo: ‘ah, aqui o barman sou eu’ […] tentei conversar mas as pessoas olhavam para mim e não me respondiam”, relatou.
Wryel também relatou que quando disse ao agressor que não queria briga, a situação piorou e ele se distanciou.
“Dado o momento que aconteceu esse fato de eu falar com a pessoa: ‘você tá muito agressivo’, foi aí que começaram as ameaças, um confronto de tipo: ‘ah, você sabe quem eu sou?’. E eu sempre: ‘não, eu não sei quem você é e eu não quero confusão. Quero que a gente curta aqui de boa porque não tem necessidade de agressividade’. Foi aí que começou a confusão”, explicou.
Tentativa de ir embora
Constrangido com a situação, Wryel convidou a mulher para ir embora, mas eles tiveram dificuldade para conseguir um carro por aplicativo. Foi logo quando as agressões físicas começaram a acontecer.
“Ele tentou me agredir, saiu da porta da casa de onde um rapaz estava segurando ele, algumas pessoas seguraram o rapaz que estava tentando apartar a briga para iniciar uma briga. E foi no momento que ele saiu e deu um tapa no meu rosto. Quando veio depois, ele tentou dar um soco em mim e eu consegui imobilizar ele. Não revidei o tapa e me afastei. Quando ele veio de novo tentar me dar um soco, eu imobilizei ele. No momento em que eu imobilizei ele, me empurraram e eu fiquei com os dois braços presos. Foi no momento em que veio uma pessoa por trás e deu um chute no meu rosto”, relata.
Pedidos de ajuda
O artista plástico contou, ainda, que quando já estava no chão, pediu ajuda porque não queria revidar as agressões. Contudo, foi brutalmente agredido na face.
“A todo momento eu falava: ‘eu não quero brigar, tem alguém aqui pra separar? Eu não quero brigar, podem separar, por favor?’. A resposta que eu tive foi um chute no rosto. Eu senti o chute no meu rosto e depois uma pesada na minha cabeça. Eu não estava entendendo absolutamente nada. Um amigo da gente pulou em cima para ficar aguentando os murros para me proteger. Esse nosso amigo é gay e em alguns momentos antes ouvimos relatos de que um dos agressores falou: ‘eu estou doido para dar um murro nesses veados'”, relembrou.
Wryel foi socorrido após as agressões para o Hospital Instituto Doutor José Frota (IJF), no Centro de Fortaleza, onde recebeu atendimento médico e passou uma noite internado. No dia seguinte, recebeu alta médica e agora passa por consultas com oftalmologista em razão dos ferimentos em um olho.
“Eu tô vendo um pouco turvo, não consigo ainda focar direito. O oftalmologista me falou que teria que esperar, por contas das lesões, para eu fazer um exame. Mas quando eu olho assim para o lado, às vezes de frente, eu vejo turvo ou então as coisas duplicadas. Tem o risco de ter tido um desvio ocular. Mas em breve eu tô de volta nas ruas pintando. Nem que seja só com um olho, mas eu vou tá lá pintando. Vou tá lá fazendo o que eu sempre faço. Levando o meu conhecimento de arte urbana para os jovens, levando cor para a rua. Nem que seja só com um olho mas eu vou estar lá novamente”.
Fonte: G1
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