A neurocientista e psicóloga Rosana Alves concedeu uma entrevista ao portal Pleno.News na qual abordou diversos assuntos, como, por exemplo, ser feliz em tempos de pandemia, os efeitos e consequências do isolamento social e saúde mental. Confira a entrevista completa no vídeo abaixo.
Defensora do diálogo entre ciência e religião, Rosana Alves é neurocientista, formada em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), além de mestre e doutora em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com 3 pós-doutorados em Neurociências. Com vasta experiência, a profissional também é escritora.
Em 2019, ela lançou o livro A Neurociência da Felicidade, disponível em ebook e audiobook. Especialista no assunto felicidade e funcionamento do cérebro, Rosana Alves é uma das maiores referências dentro e fora do país.
Como ficar bem, como ficar feliz durante esse tempo tão incerto e que a gente não sabe quando vai acabar?
Primeiro, temos que entender que são tempos difíceis mesmo! Saber que estamos sendo e ainda seremos impactados por esse vírus, por essa pandemia. O primeiro passo é não ignorar o sofrimento, mas também não o colocar em um lugar de destaque, com um “vamos viver então” ou “vamos mergulhar nesta dor”. Não se ignorar que o sofrimento existe. É um tempo de vulnerabilidade. Esses fatores que têm nos envolvido: a incerteza, a morte, a doença, a crise econômica que chegou para muita gente. São problemas reais. Então, temos que olhar para problemas reais e criar estratégias para lidar com eles.
Ainda sobre a pandemia, uma das consequências disso foi a mudança na rotina. As pessoas precisam ficar em casa. Muitas pessoas ainda estão trabalhando de casa. Essa falta de convívio, de socialização, pode ser prejudicial à saúde? E de que forma?
Pode! Nós somos seres sociais. O isolamento social pode ter uma consequência absurda, negativamente falando, para a nossa saúde mental.
Foi publicado um trabalho no Reino Unido mostrando que os jovens e adolescentes foram os mais afetados emocionalmente com a crise [decorrente da pandemia], e um dos motivos foi o isolamento social. Dos entrevistados, 75% apresentavam características de depressão.
Mesmo dentro de casa, nós temos que manter um bom relacionamento com quem está nela e criar estratégias, mesmo que à distância, para estar com quem a gente ama: participar de um aniversário virtual, manter uma rotina. A falta de rotina, agregada ao isolamento social, pode piorar muito os nossos quadros emocionais. Aqueles que já tinham algum transtorno podem ter o quadro agravado, e muita gente que jamais manifestaria um transtorno mental, pode, neste momento, ter um por conta deste momento de tamanha vulnerabilidade.
Você tocou em um assunto bastante comentado hoje: a saúde mental. Durante a pandemia, o número de pessoas com depressão e com Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) aumentou muito. Muita gente tem vergonha de dizer que tem problemas, de procurar ajuda e não sabe como lidar com isso. Como essas pessoas podem lidar com tal situação no momento ou evitar que chegue a um quadro desses e manter a felicidade?
Penso que qualquer alteração que você perceba que veio e está persistindo por uma semana, duas, três semanas, já deve ser um alerta para procurar ajuda seja para conversar com alguém que tenha capacidade, para trazer um suporte, ou seja para procurar ajuda profissional.
O que eu digo a muitos que têm vergonha de procurar ajuda é que, primeiro, precisam pensar que o sofrimento mental não é motivo de vergonha. É uma condição inerente ao ser humano desde que o pecado entrou no mundo. E também [oriento] que eles aproveitem a onda da pandemia e o fato de todo mundo estar vulnerável, de todo mundo estar falando da sua ansiedade, da sua depressão, e procurem um psicólogo – mesmo que seja uma questão que já estava presente ou algo do tipo: “Eu não estou conseguindo lidar bem com a pandemia, então vou procurar uma ajuda”. Quanto antes a pessoa for procurar ajuda, mais fácil será para ela lidar com esses desafios.
Quem teve o seu quadro agravado [pelo isolamento/pela pandemia] talvez precise voltar ao médico, dar uma olhada se a medicação está correta etc. E quem teve isso desencadeado agora, a indicação é a mesma: procure ajuda!
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