Mulher submetida a radioterapia tem canal vaginal reconstruído com pele de tilápia, no Ceará


Já usada como prótese biológica em vítimas de queimaduras e em mulheres com síndrome de Rokitansky ou agenesia vaginal, a pele de tilápia ganhou outra importante finalidade na ginecologia. A membrana do peixe serviu para reconstrução do canal vaginal em uma mulher submetida a radioterapia pélvica, que teve como complicação do tratamento, o fechamento dos tecidos da parte interna do órgão feminino. Realizado pela primeira vez na história, o procedimento cirúrgico aconteceu na Maternidade Escola Assis Chateaubriand, em Fortaleza, no mês de novembro do ano passado. A professora Elisane Gusmão, de 41 anos, veio de Medina, interior de Minas Gerais, a Fortaleza. Ela teve câncer genital em abril de 2009, quando estava com apenas um ano de casada. Depois de fazer 25 sessões de radioterapia e outras quatro de braquiterapia, a doença foi curada. No entanto, um novo problema foi desencadeado: os tecidos da sua cavidade genital haviam sido fechados como consequência do tratamento. No Ceará, dez mulheres já passaram por cirurgia de reconstrução vaginal com a pele de tilápia. Todas elas nasceram com a síndrome de Rokitansky, quando o canal é curto ou não existe. O caso de Elisane Gusmão, contudo, não se inclui nesse perfil. A professora adquiriu o problema somente na vida adulta. “Nesse caso em particular, nós precisamos individualizar os órgãos, porque estava tudo literalmente muito grudado devido a radioterapia. Precisamos primeiro desse tempo abdominal através da laparoscopia, onde separamos as estruturas bexiga e reto, e no segundo momento, fizemos o canal vaginal”, detalha o professor de Medicina e cirurgião, Leonardo Bezerra. Como parte dos cuidados do pós-operatório, a professora usa um molde de látex para fixar a pele de tilápia no novo canal vaginal. Quase dois meses após a cirurgia, a mineira tem reagido bem à intervenção. A constatação foi feita durante consulta de rotina. “Está tendo uma vida normal, ainda sem atividade sexual, porque a gente pensa em liberar entre três e seis meses, mas no exame físico, ela tem cavidade vaginal, com comprimento e largura normais. Ou seja, se ela fosse examinada por um profissional que não soubesse do que aconteceu com ela, sequer ele iria perceber alguma alteração”, pontua o médico. Para Elisane, que já havia buscado tratamento para reversão do quadro em incontáveis hospitais públicos e particulares do Sudeste do país, conseguir finalmente a cura é motivo de alegria. “Eu ainda estou sonhando, parece que a ficha ainda não caiu, porque foram nove anos de muito sofrimento”, declara a professora, que diz ter o Ceará como sua segunda casa. *** Informações com G1-CE

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